O Mistério da Casa Verde 3
O Mistério da Casa Verde 3
Sumário
O Mistério da Casa Verde 3
Os meninos se apresentam ao hóspede da Casa Verde.
O dia seguinte foi difícil para os quatro. Pedro Bola foi tirado da cama à força pelo irmão mais velho, mas adormeceu de novo na mesa do café. Arturzinho cochilou três vezes nas aulas da manhã e teve de ser advertido pelos professores.
André movia-se como um zumbi. Mesmo o dedicado Leo teve dificuldade em fazer o exame de inglês, no qual habitualmente se saía bem. Por tudo isso, quando encontraram, à noite, estavam num péssimo humor. Pedro Bola queria mesmo desistir daquela história: é muito trabalho para arranjar um clube.
Além disso, a ideia de enfrentar de novo o maluco – seu diagnóstico já estava feito – não lhe agradava em nada. Em vão Arturzinho tentava animar os companheiros. Leo, ainda que cansado, o acompanharia. Mas Pedro Bola e André, irritados, relutavam em entrar na casa. Por fim Arturzinho saiu-se com uma fórmula conciliadora:
– Eu e o Leo entramos, vocês esperam aqui. Se tudo der certo com o homem, chamamos vocês, continuamos com nosso plano. Se não der certo, desistimos.
Todos de acordo, Arturzinho e Leo embrenharam-se de novo o matagal. Quando chegaram aos fundos da casa, uma surpresa: a abertura que tinham feito na noite anterior estava fechada com tábuas. Colocadas sem dúvida pelo estranho morador.
– Está certo – observou Arturzinho, – O homem tem o direito de se proteger.
Experimentou as tábuas: não estavam fixas. Sem muito esforço, conseguiu afastá-las, empurrando-as junto com os tijolos que as calçavam. Leo olhava-o, sem dizer nada. Arturzinho hesitou; agora também ele estava obviamente apreensivo. Mas não era de desistir:
– Que diabos – gritou -, já que chegamos até aqui vamos em frente.
E meteu-se pelo buraco da parede. Leo seguiu-o.
De novo viram-se na sala gradeada, com as correntes na parede. Detiveram-se um instante: nada. Não se ouvia um som. Avançaram cautelosamente pelo corredor, chegaram à porta do “Diretor”. Estava entreaberta. Detiveram-se, olharam-se à luz fraca da lanterna: entramos ou não entramos? Mas então:
– Entrai – disse uma voz vinda lá de dentro, uma voz grossa, profunda.
De puro susto, Arturzinho quase deixou cair a lanterna. O convite (ou a ordem?) repetiu-se:
– Entrai.
Depois de uma pequena hesitação. Arturzinho finalmente abriu a porta. Entraram ambos. E ali estava o homem, na mesma posição da noite anterior, a mirá-los, fixamente.
– Eu já vos esperava – disse por fim, numa voz grossa, rouca.
De novo, Arturzinho e Leo estremeceram. Mas agora já não sentiam tanto medo. Tendo falado, o homem parecia-lhes mais próximo do normal do que na noite anterior; esquisito, decerto, mas já não tão aterrorizante.
– Vós sois persistentes – acrescentou ele.
“Vós sois”? Arturzinho jamais ouvira alguém falando daquela maneira. Contudo, a questão era secundária. O importante era que o homem estava iniciando um diálogo. Com o que se revelava, se não amistoso, pelo menos não tão hostil. De modo que resolveu ir em frente:
– Desculpe, mas… o senhor nos conhece? – (A rigor, deveria optar por um “Desculpai…”, mas isto exigiria muito esforço em sua capacidade de conjugar verbos.)
O homem esboçou um pálido e desdenhoso sorriso.
– Se vos conheço? Pessoalmente, não. Mas posso dizer tudo a vosso respeito. Posso penetrar em vossos corações, posso percorrer os sombrios corredores de vossa mente. Posso fazer tudo isto, e mais ainda, sabeis por quê? Porque sou o alienista. E o alienista reconhece de imediato os loucos. Como vós.
Arturzinho arregalou os olhos, de espanto.
– Loucos, sim – prosseguiu o home, tranquilamente.
– Estranhais o que estou dizendo? Não é de admirar: os loucos sempre estranham o que é normal, o que é sábio. Foi o que constatei depois de estudar muitos anos a loucura. Conheço-a profundamente: os seus diversos graus, os casos em que se pode classificar. Sou um cientista, como vedes. E, baseado na ciência, posso garantir que vós sois loucos.
Sorriu, desdenhoso:
– A bem da verdade, nem era preciso ser alienista para diagnosticá-lo. Vossas esquisitas vestimentas, vosso esdrúxulo penteado, as estranhas palavras que usais, tudo isto apregoa as quatro ventos a vossa insanidade, a vossa alienação.
Calou-se um instante, e continuou:
– Sei o que pretendeis: quereis refugiar-vos aqui, na Casa Verde, como muitos outros doentes mentais que vos precederam e que ocuparam estas dependências. Em verdade, todos foram por mim admitidos. Até o momento em que, pela quantidade de gente aqui confinada, dei-me conta: o lugar de loucos, como vós, é lá fora. O mundo é um hospício, o vosso hospício. A Casa Verde é o meu reduto, o reduto da ciência, coisa séria, que merece ser tratada com seriedade. Portanto, nada tendes a fazer aqui.
– Mas escute uma coisa… – começou a dizer Arturzinho.
O homem levantou-se, os olhos brilhando de fúria:
– Não me interrogueis! Não vos concedi esse privilégio! Não dou razão dos meus atos de alienista a ninguém, salvo aos mestres e a Deus!
E, transtornado, apontou a porta:
– Fora! Fora daqui, insanos!
Arturzinho ainda tentou acalmá-lo, que é isto, meu senhor, nós somos amigos, estamos aqui em missão de paz – mas aí o homem passou a mão numa barra de ferro. Os dois amigos precipitaram-se pelo corredor, passaram pelo buraco e se viram fora da casa, diante de Pedro Bola e André que, espantados, os olhavam.
Durante uns bons minutos, ficaram ali, ofegantes, sem poder falar.
– Já sei – disse André, sem disfarçar o sorriso de triunfo. – O cara correu vocês lá de dentro. Bem feito, Xereta. Eu disse que essa história não ia terminar bem. Ah, mas você tinha de insistir. Porque você é o espertinho, você é o cara que sabe tudo, o cara que ia convencer o maluco a fazer parte do nosso clube. Bem feito, cara. Pena que o sujeito não te deu uma surra.
Arturzinho, a respiração opressa, não ouvia.
– Deus, que cara estranho – disse, por fim. – Que cara estranho.
Ainda ofegante, voltou-se para Leo:
– Hein, Leo? Que é que você diz? Não é um bicho muito louco, o sujeito?
– E – disse Leo, numa voz sumida. – Muito estranho.
– Mas afinal – Pedro Bola, agora curioso – o que aconteceu lá dentro? O cara falou com vocês, Arturzinho?
– Falou.
– E o que ele disse?
Arturzinho pensou um pouco:
– Sabe que eu não sei, cara? Falou uns negócios muito complicados. E o jeito que ele falava! Vós sois isto, vós sois aquilo. Ah, sim, nos chamou de loucos.
– Loucos? – Pedro Bola, deliciado. – Essa é ótima. Nós somos os loucos. E ele é o quê?
– O alienista – disse Leo.
– Alienista? O que é isso?
– Alienista – explicou Leo – era o nome dos doutores que tratavam malucos. Eu acho…
Interrompeu-se.
– Acha o quê? – André, impaciente. – Desembucha, cara. O que é que você acha?
– Acho – continuou Leo – que temos uma pista para descobrir quem é esse homem.
– Temos uma pista, não – protestou André. – Você pode ter uma pista, cara, mas a mim não interessa. Porque eu não quero descobrir coisa alguma. Já estou com o saco cheio dessa história. E acho que o Pedro Bola também. Não é, Pedro Bola?
– Bem… – começou Pedro Bola. Ao contrário do amigo, estava obviamente interessado no assunto.
– Já sei – suspirou André -, vocês estão todos contra mim. Está bom, vamos em frente. Diga, Leo: que pista é essa que você descobriu?
– Eu acho que sei do que o homem está falando. – Uma pausa. – Mas não tenho certeza. Tenho de fazer uma pesquisa na biblioteca. Amanhã eu conto mais.
André não disse nada. Pesquisa era uma palavra que lhe dava alergia, e da qual não queria nem ouvir falar. Voltou-se para o Arturzinho:
– E você, cara? Também quer descobrir quem é o homem?
– Claro. E acho que sei por onde começar. Vejam bem: como o Leo disse, esse homem deve ter contato com alguém aqui de fora. Quem é que lhe leva a comida? Aquelas bananas, por exemplo, quem trouxe? Temos de descobrir quem é essa pessoa. Ela pode nos esclarecer quem é esse tal de alienista, e o que ele está fazendo aí dentro. Essa pessoa pode nos dizer quem ele é. E pode servir de contato também.
Ficaram todos em silêncio, pensativos.
– Uma coisa que eu não entendo – disse Pedro Bola, por fim. – É: se existe essa tal pessoa, como é que entra na casa? A porta lá a frente está murada. As janelas também. A única abertura é essa que nós fizemos…
– Quem disse que é a única? – Perguntou Leo.
– Como? – Pedro Bola não estava entendendo.
– Nós achamos que é a única abertura – disse Leo. – Será que é mesmo? Será que não existe uma outra?
Os outros olhavam-no, surpresos. Aquela possibilidade não tinha ocorrido a ninguém.
– Só há uma maneira de saber – concluiu Arturzinho.
– E procurando. Vamos procurar essa tal de abertura.
– Um momento – protestou André. – Não me digam que vocês querem mais confusão. Já não chega o susto que a gente levou? Pô, gente, vamos esquecer essa tal de Casa Verde, isso aí dá azar.
– Vamos votar – propôs Arturzinho. – Quem acha que a gente deve continuar investigando, levanta a mão.
André voltou-se para Pedro Bola, fez-lhe um apelo:
– Por favor, cara. Não vai atrás do Xereta, cara, você vai se dar mal. Por favor…
Mas Pedro Bola já estava de mão levantada:
– Desculpa, cara, mas agora estou gostando da história, isso aqui já está parecendo até aqueles filmes de aventura… Me desculpa, mas eu vou em frente.
– Se você quiser cair, André – Arturzinho, irônico -, não se constranja: nós entendemos. Coragem não é coisa para qualquer um. Mas tudo bem, depois nós convidaremos você para fazer parte do Clube da Casa Verde.
– Está bem, está bem – resmungou André. – Eu fico. Agora, uma coisa eu vou dizer: para mim, maluco não é só aquele cara lá dentro. Eu acho que vocês pegaram a loucura dele. Pelo jeito, o único aqui com a cabeça no lugar sou eu.
Voltaram à casa e puseram-se a procurar a entrada secreta. Começaram pela própria parede dos fundos. Nada. Ali, só o buraco que haviam feito – de novo fechado com as tábuas: realmente o cara lá dentro não queria nada com aqueles que chamara de loucos. Exploraram em seguida, e sem resultado, uma das paredes laterais. Na outra parede também não havia nada, a não ser as janelas muradas.
– Estranho – disse Pedro Bola. – Parece que o cara está mesmo incomunicável aí dentro.
– Quem sabe a abertura está no telhado? – perguntou André.
– Pouco provável – disse Arturzinho. – A pessoa teria de colocar escadas, teria de subir, talvez com pacotes… Não, a abertura não deve ser no telhado.
Nesse momento. Leo, que se metera no matagal – para fazer xixi -, chamou-os.
– Venham cá ver uma coisa.
Correram para lá. Arturzinho não pôde conter uma exclamação: à luz da lanterna, o que eles viam, muito bem disfarçado pela vegetação abundante, era uma espécie de alçapão, construído em alvenaria, com uma pequena, mas muito sólida porta.
– Está aqui a resposta – disse Leo. – Aposto que este alçapão dá num túnel. E aposto que este túnel leva até a Casa Verde. Deve ser por aí que levam comida para ele.
Cuidadosamente, Arturzinho tentou abrir a porta. Não conseguiu: estava fechada – por dentro.
– Não estou entendendo – disse André. – Se é por aqui que entra a pessoa de fora, como é que ela avisa para o sujeito abrir a porta?
Leo mostrou um orifício na porta, através do qual emergia um cordel com uma argola na porta.
– Isto aí deve estar amarrado a uma sineta lá dentro. Provavelmente na sala em que o cara está.
Pedro Bola já ia puxar o cordel, Arturzinho deteve-o:
– Está maluco, cara? Se você fizer isso, o homem saberá que conhecemos o segredo. E aí perderemos a chance de descobrir quem vem aqui.
– Verdade – disse Pedro Bola, desconcertado. – E como vamos descobrir quem vem aqui?
– Vigiando – disse Arturzinho.
– Como, vigiando? – André, atônito. – Vamos ficar aqui, esperando que apareça alguém?
– Claro que não. A gente se reveza, compreendeu? E aí ficamos escondidos…
Apontou uma árvore próxima, de grosso tronco:
– Atrás daquela árvore, por exemplo. Somos quatro. Cada um faz um turno de seis horas.
– Não acredito – André, incrédulo diante daquela proposta que lhe parecia o maior dos absurdos. – Não acredito que vou ficar de guarda seis hora atrás daquela árvore.
– Qual é o problema? – Arturzinho, bem-humorado. – Você não faz nada, mesmo, pode passar umas horas vigiando. De qualquer jeito, é só até aparecer a pessoa. Não vai levar muito tempo. O cara lá dentro precisa comer, não precisa?
André limitou-se a suspirar. Ali mesmo Arturzinho organizou a escala de plantão para as próximas vinte e quatro horas. E, para dar o exemplo, ofereceu-se para ser o primeiro. Passavam alguns minutos da meia-noite; ficaria, pois, até as seis da manhã, quando Leo, sorteado para ser o segundo, o substituiria.
Foi até um orelhão próximo, ligou aos pais, disse que iria dormir a casa de André. Depois, despediu-se dos amigos, que foram para casa, e instalou-se em seu posto, atrás da árvore.
Foi uma longa noite, aquela. Com frio, com fome, Arturzinho muitas vezes pensou em desistir – será que o clube valia tanto sacrifício? Foi com alívio que viu o dia clarear: tudo o que queria era um banho e cama. Já estava se preparando para ir embora – eram cinco e meia – quando ouviu um barulho: alguém caminhava pelo matagal. Cuidadosamente, espiou.
Era uma garota – quinze, dezesseis anos. Dois detalhes lhe chamaram imediatamente a atenção. O primeiro a maneira como estava vestida. Parecia ter saído de um filme sobre o século XIX, com o seu vestido longo, severo. O segundo detalhe era mais importante: a garota era linda. Linda, não, lindíssima. Morena, longos cabelos, alta, corpo perfeito, Deus, gemeu Arturzinho, de onde é que saiu esta maravilha?
A jovem, que carregava várias sacolas de pano – provavelmente com alimentos ou roupas -, aproximou-se do alçapão. Tal como Arturzinho esperava, puxou a argola. Tal como imaginara, depois de alguns segundos a portinhola se abriu. A jovem desapareceu.
Arturzinho estava desnorteado. Quem seria a moça? Ele, que se gabava de conhecer todo o mundo, todas as garotas que frequentavam os bares, os cinemas, as reuniões sociais, nunca a vira. Provavelmente a jovem era, portanto, uma reclusa. Agora – qual seria a relação dela com o homem da Casa Verde?
Ali estava uma coisa para ser investigada. Enquanto pensava no que fazer, a portinhola do alçapão se abriu, e a moça de lá saiu, agora sem as sacolas. Arturzinho consultou o relógio. Um quarto para as seis. Dentro em breve, Leo deveria aparecer para substituí-lo. Mas não tinha tempo para esperar, pra contar o que havia acontecido. A moça já se afastava, apressadamente. Sem hesitar, Arturzinho foi atrás dela.
Segui-la sem ser visto, àquela hora em que as ruas ainda estavam desertas, não foi fácil, mas Arturzinho não teve de andar muito. A moça entrou numa casa modesta de um bairro próximo. Arturzinho anotou o endereço e se mandou.
O Mistério da Casa Verde 3
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