O Mistério da Casa Verde 5
O Mistério da Casa Verde 5
Sumário
O Mistério da Casa Verde 5
Arturzinho descobre quem é a garota misteriosa
Oculto atrás de uma árvore, próximo à casa em que morava a garota, Arturzinho estava irritado: eram nove horas da manhã, ele estava ali desde as seis. Tinha acordado cedíssimo, para grande surpresa do pai, que o encontrara na cozinha, tomando café – caiu da cama, Arturzinho? – e estava morrendo de sono. Já pensara em desistir, em voltar para casa. Mas não o faria por nada neste mundo. A verdade é que a menina o impressionara profundamente. Estava ali por causa do homem da Casa Verde, decreto, mas também, e principalmente, por causa dela.
Perto das dez a sua paciência foi, finalmente, recompensada. A porta se abriu e ela apareceu – sozinha, como Arturzinho queria. Já não vestia aquela roupa antiquada – estava com uma blusa e calças jeans que modelavam o seu corpo perfeito.
Consultou o relógio e pôs-se a caminhar, apressada. Como da outra vez, Arturzinho a seguiu. Ela dobrou à direita, depois à esquerda, chegou a uma avenida e entrou numa mercearia. Arturzinho hesitou, depois entrou também. Enquanto ela escolhia frutas e verduras, ele pôde observá-la. De perto, era ainda mais linda, e ele não podia tirar os olhos de seu rosto. O que ela acabou percebendo. Pelo jeito, era tímida, porque ficou claramente perturbada. Mesmo assim, não conseguiu disfarçar um sorriso, o que deixou Arturzinho animado. Resolveu optar pela audácia. Quando ela saiu da mercearia, carregando várias sacolas plásticas, ele saiu também, emparelhou o passo com ela:
– Desculpa, mas eu vi que você estava muito carregada… Posso ajudar você com as sacolas?
A cantada era tão velha, que ela teve de rir – e ele também. O que teve a vantagem de quebrar o gelo:
– Eu sou o Arturzinho – disse, apresentando-se. E acrescentou, com uma desenvoltura que surpreendeu a ele mesmo: – Meus amigos me apelidaram de Xereta. Eu não gosto desse apelido, mas você agora deve achar que eles têm razão, que eu sou metido mesmo…
Ela riu de novo, disse que se chamava Lúcia.
– E não tenho apelido – acrescentou.
Foram caminhando devagar, conversando. Ela contou que estava cursando o segundo grau numa escola ali perto; que gostava de música e de cinema; que jogava vôlei no time do colégio… Enfim, uma garota como qualquer outra. O que deixava Arturzinho ainda mais intrigado. Aquela era a mesma moça que ele avistara, usando um vestido antiquado, entrar na Casa Verde?
Havia um mistério ali. Nada perguntou, porém, sobre o que vira na madrugada anterior; afoito que era, soube, entretanto, conter-se. Não era o momento.
Quando chegaram a casa dela – uma casa comum, modesta, parecida às outras da rua, ele perguntou se ela não gostaria de ira ao cinema naquela noite. Para sua surpresa, grata surpresa, ela disse que sim.
Por uma dessas coincidências, era um filme de mistério. História intrigante: uma casa que adquiria vida própria, por assim dizer, e que queria expulsar os moradores. Quando saíram do cinema, Lúcia tinha mudado. Não queria falar, recusou o convite dele para comerem qualquer coisa, disse que precisava ira para casa . Foram andando, em silêncio. Quando chegaram à rua dela, já às dez da noite, Arturzinho resolveu arriscar:
– Eu sei porque o filme incomodou tanto você.
E contou que a vira entrar a Casa Verde pelo alçapão. Falou do homem que lá tinham visto – enfim, relatou tudo o que acontecera.
Ela baixou a cabeça e começou a chorar. Chorou muito tempo, um pranto silencioso, sentido. Consternado, Arturzinho não sabia o que dizer. Finalmente, ela falou:
– Aquele homem que você viu lá dentro da Casa Verde… Aquele homem estranho… Aquele homem é meu pai.
Arturzinho estremeceu. Era pai dela, o maluco? Deus, em que confusão ele fora se meter. Mas ela já continuava – e agora falava com menos dificuldade, como se estivesse aliviada por poder partilhar o segredo com alguém.
– Ele é bisneto do doutor Simão Bacamarte. Com certeza você ouviu falar nesse homem…
– O alienista…
– É O alienista. Aquele, que inspirou o Machado de Assis.
– Mas espere um pouco – Arturzinho, surpreso. – Se eu me lembro bem da história, o doutor Bacamarte não teve filhos.
– Não teve filhos com a dona Evarista, a mulher dele. Mas você deve recordar que, no fim da vida, ele ficou dezessete meses encerrado na Casa Verde, até falecer…
– Verdade.
– Nesse período, ele não teve contato com ninguém, a não ser com a mulher que tomava conta do lugar, uma portuguesa chamada Ana. Essa moça tinha muita pena do doutor; cuidava dele, alimentava-o, vestia-o. Para ela, o doutor Bacamarte não era alienista… nem doente; era um infeliz, um homem solitário, que precisava ser ajudado. Ele acabou se apaixonando por ela. Tiveram um filho, mas disso ele não ficou sabendo, porque morreu antes. Os pais de Ana ficaram furiosos com ela; expulsaram-na de casa. Ela teve de criar o filho sozinha, o que conseguiu: era uma moça muito valorosa. O filho cresceu, tornou-se empregado de uma loja, casou, teve seus próprios filhos… Mas a história do doutor Bacamarte ficou um segredo da família, um segredo que ninguém revelava, e que o pessoal da cidade acabou esquecendo.
Suspirou.
– O único que não conseguia esquecer era o meu pai. Desde pequeno ele era considerado esquisito, um menino que falava pouco, que fugia das pessoas, e que gostava de ficar no porão da casa dos pais. A figura do doutor Bacamarte estava sempre presente na lembrança dele. Leu O alienista não sei quantas vezes, chegava a recitar o livro dormindo. Apesar disso tudo, conseguiu ir levando a vida: abriu uma lojinha de material de escritório, casou. Tiveram uma única filha, eu. Posso te garantir, Arturzinho, que era um pai maravilhoso. Um pouco distante, às vezes, mas muito dedicado. Brincava comigo, e gostava muito de me contar histórias na hora de dormir. Eu tinha medo do escuro, mas quando ele sentava a meu lado, no quarto, abria um livro e lia uma história, aquilo para mim era um conforto, eu às vezes nem escutava o final, adormecia embalada pela voz dele. Mas, você me perguntará, quando é que ele ficou doente? Não sei. Só sei que foi ficando cada vez mais quieto, mais voltado para dentro de si mesmo. Não falava com ninguém, mas às vezes ficava horas resmungando coisas. Lá pelas tantas já não ia trabalhar – minha mãe teve de tomar conta da loja -, passava o dia em casa, lendo o livro do Machado de Assis. E aí começou a rondar a Casa Verde. Ficava horas naquele matagal em que você se escondeu, olhando o lugar. Um dia sumiu. Minha mãe e eu o procuramos por toda parte, até que ela se deu conta: ele deveria estar na Casa Verde. Por sorte, encontramos entre suas coisas uma planta do lugar, feita por ele mesmo, e que mostrava a entrada do alçapão…
– Foi ele quem construiu esse alçapão?
– Não, o alçapão já existia. Não sabemos quem o construiu. É possível que a casa tenha tido outros moradores clandestinos, no passado… Não sei. De qualquer modo, era antigo, esse alçapão. Alguém o fechara com argamassa, que meu pai removeu, e assim teve acesso à Casa Verde. Decidimos usar o mesmo alçapão. Naquela mesma noite fomos até lá, abrimos a portinhola. Havia uns degraus, e depois uma espécie de túnel muito estreito, e de novo uns degraus, pelos quais subimos. Levantamos a tampa de um outro alçapão e aí chegamos a uma sala… e demos com o papai.
Começou a chorar de novo.
– Foi um choque, Arturzinho. Um choque. Nos guardados da família ele tinha arranjado aquela roupa do século passado, e estava lá, sentado numa cadeira de velha, à luz de uma vela, naquele lugar imundo, com sujeira por toda parte, e até ratos mortos no chão. Ele nos olhava fixo, sem dizer nada. Minha mãe agarrou-se a ele, implorou que saísse dali, que voltasse conosco para casa. Ele, quieto, imóvel. Finalmente falou… para dizer que não, que não sairia dali, que o mundo estava cheio de loucos, e que ele, o alienista, teria de ficar na Casa Verde… como o bisavô, o doutor Simão Bacamarte. Não houve maneira de convencê-lo. A única coisa que permitiu foi que, daí em diante, limpássemos o local, que lhe lavássemos a roupa e levássemos comida. Mas na primeira vez em que fui fazer isso, ele me expulsou: disse que eu era louca, que estava vestida como os loucos. Tive de arranjar aquele vestido antigo, que você viu, e aí, sim, ele me deixa entrar.
– E quando começou isso?
– Há meio ano. Nós não contamos nada para ninguém. Os vizinhos pensam que ele simplesmente nos abandonou, e não estranham, porque sempre o acharam maluco. E minha mãe prefere que pensem assim.
– Mas por que vocês não pediram ajuda a alguém?
– Pensamos nisso, Arturzinho. Mas meu pai nos ameaçou: se trouxermos uma pessoa de fora ele nunca mais fala conosco. Eu queria ir em frente assim mesmo, consultar um psiquiatra, mas minha mãe teve medo: ela acha que é melhor ir levando, esperando que ele melhore.
Arturzinho não sabia o que dizer. Ficaram em silêncio algum tempo. Por fim, ela disse que precisava entrar, tinha aula na manhã seguinte. Arturzinho pegou-lhe a mão:
– Posso ver você de novo?
Ela sorriu:
– Pode.
Deu-lhe o número d telefone, ele se despediu e foi para casa. Tão excitado estava, tão emocionado, que não se conteve: ligou para Leo, contou-lhe o que tinha acontecido.
– E agora, Leo? O que é que a gente faz?
Leo, o inteligente e sábio Leo, não tinha resposta para essa pergunta. Mas prometeu pensar a respeito. Marcaram um encontro para daí a dois dias, na pizzaria.
– Leve o livro – disse Arturzinho. – Eu preciso ler O alienista. Preciso mesmo.
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